quarta-feira, 31 de maio de 2017

Carta para Pandinha

Você apareceu no casarão de meus avós, em Areia (PB). Conquistou os cuidados de mamãe, que lhe dava banhos e retirava suas pulgas. Aos poucos, mamãe e papai nos contavam como melhorava, comia mais e ficava espertinha. Ao precisarem retornar a Brasília, não encontraram com quem você pudesse ficar e receber cuidados. Então, eles a trouxeram de avião para nossa casa.

Com os olhos azuis, brincávamos que você herdou os olhos do meu avó materno. De todos os felinos que tivemos, você pareceu a mais sapeca, a mais danada, que mais quebrou coisas na casa. Quando chegou, no início de dezembro, mamãe queria doá-la por receio de sua asma e alergia. Mas, logo, você tomou conta de nossos corações, e jamais que a deixaríamos. Madalena, que parecia não aceitar mais outro gato, se afeiçoou a você, a adotou e virou mãezona. Ficou mais dócil e deixava os pedacinhos de carne para você roubar.

Mas, desde o dia 13, você decidiu conhecer o mundo e deixou um buraco em nossos corações. Não consegui trabalhar naquele sábado. Fizemos de tudo. Papai desceu várias vezes ao dia por vários dias. Colocamos suas fotos em todos os elevadores de todos os prédios da quadra. Pedi ajuda de amigos e da Pro Anima para divulgar suas fotos com nossos contatos. Alguns vizinhos se compadeceram. Mas, até hoje, não temos notícias suas. Duas ligações me deram esperança, mas não era você.

Em casa, precisava e preciso parecer forte. Mamãe, com dor de cabeça, sentia e sente falta da sua “boneca”. Papai, pelos cantos, deixava e deixa escorrer lágrimas. Eu chorava fora de casa e choro ao escrever esta carta.

É difícil acordar e me arrumar para o trabalho e não vê-la doidinha correndo pela casa e me atrapalhando ao arrumar a cama. Aquela energia toda me deixava doida. É difícil não ver você e Madalena correndo uma atrás da outra logo cedo e à noite, quando eu tentava dormir. Madalena também sente sua falta, parece assumir alguns hábitos seus (tira o ralo do meu banheiro, bebe água do box após tomarmos banho, corre pela casa) e está mais dengosa do que nunca.

É difícil usar as sapatilhas com os lacinhos pela metade porque você comeu. É difícil chegar à casa e reduzir a velocidade do carro sempre achando que você pode estar em algum cantinho pelo qual vou passar. Sonho em encontrá-la e fazer a alegria da família com você em meus braços. É difícil ver os pratinhos de porcelana que papai e mamãe compraram por causa da sua acne felina, e hoje só Madalena bebe água e come neles. É difícil não ver mais você provocando Madoca e a chamando para brincar.

Você faz uma falta danada, bichinha. Torcemos para que esteja bem, para que alguém a tenha encontrado e esteja lhe dando o amor que nós lhe dávamos. Caso contrário, que esteja com nosso Tomtom, nosso Miuzinho e meu Pretinho.