quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Do nada

Do nada, acordo simplesmente triste. Do nada, lágrimas saem dos meus olhos mal os abro. Ponho a culpa nos sonhos que não me recordo. É mais simples a autoexplicação. Mas é mais profundo. Ao longo do dia, aquela tristeza inaugural mostra-se. Os anos passam, e pareço perder mais do que ganhar, apesar, de, às vezes, achar o contrário. Não perco mais tempo com bobagens ou pessoas rasas. Acredito que tenho mais tolerância com aquilo com que perdia paciência facilmente. Aprendo mais, leio mais. Aprendo a dizer não. Mas, ao mesmo tempo, a solidão cresce, os sonhos padecem, o corpo envelhece, a mente sofre. E a vontade de tudo é sempre maior. Essa vontade que teima ir na contramão da vida, do mundo, dos anos, do padrão. A vontade que está sempre ali e não vai embora. E seria mais fácil se ela se acalmasse. Já tive mais pressa, mas a pressa é inevitável. Preciso fazer isso, preciso fazer aquilo, preciso ir atrás, preciso aprender, preciso ser melhor, preciso… Tantos precisos que fazem a pressa estar sempre ao lado. Acalmo. Mas, logo, lá vem ela de novo. E, com ela, a vontade. É difícil ser sem saber ser-se o que é ou o que se pode ser. É difícil sonhar com o que independe de si e das incógnitas que o tempo traz. É difícil tentar ser sempre melhor e descobrir-se sempre cada vez menor. Quanto mais se lê e se sabe, mais se quer ler e menos se sabe. É um mais que vira menos, um menos que vira mais e esses sinais andam para lá e para cá na mente, se esbarrando, se atropelando, se congestionando. E acho que é nesses mais e menos que nasce a água salgada dos olhos sem saber-se seu real significado.

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