terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Uma aventura em um triciclo de bambu


Já imaginou rodar mais de um país em cima de três rodas? E em um triciclo feito de bambu? Isso não é roteiro de filme nem uma aventura de um louco. Breno Lobo, 40 anos, fará uma viagem de mais de 2 mil quilômetros durante aproximadamente dois meses por Tailândia, Laos e Malásia. O veículo? Ele mesmo o fabricou, junto com um arquiteto tailandês. Breno pretende iniciar a viagem no fim de fevereiro.

Por que o bambu? Porque é um material ecofriendly, renovável e flexível. Além disso, a planta demora apenas três anos para chegar a um tamanho em que pode ser cortada e aproveitada para fabricação de diversos materiais. E logo volta a crescer. Segundo Breno, o seu triciclo de bambu é mais confortável para uma viagem de longas distâncias do que uma bicicleta comum.

“As pessoas acham que eu sou louco. Mas sou um cara normal que abriu mão do luxo, saiu da sua zona de conforto para ser 100% feliz. Faço tudo por paixão. Ela que norteia a minha vida. Com mais essa viagem, quero promover um estilo de vida diferente e mostrar que não é preciso estar ligado a algo que não te faz feliz”, explica Breno.

Não bastam apenas a viagem e o triciclo. Breno convida a todos para a sua aventura. E não é necessário acompanhá-lo durante todo o trajeto. Pode ser um dia, uma semana ou um mês.

Se não puder ou tiver coragem de segui-lo, pode fazer a viagem junto com ele acompanhando suas fotos e seus vídeos feitos e editados por celular. Breno vai publicá-los, diariamente, em sua página Nomadik Breno.

Se ele tem patrocínio? Não. Mas Breno não descarta qualquer parceria. Em sua aventura, ele ainda utilizará roupas feitas por ele próprio a partir de fibras de determinadas plantas para seu conforto e para não abdicar da boa aparência. Mas isso já é outra história.

Quer saber mais sobre o Breno?

Breno é aventureiro desde sempre. Mineiro, de Belo Horizonte, saiu do Brasil aos 17 anos e foi aos Estados Unidos. Lá se formou em Marketing e Turismo. Depois, viajou pela América do Sul, onde escalou, durante quatro meses, a Cordilheira dos Andes, conheceu a Patagônia e a Polinésia.

Ao retornar ao Brasil, teve sua própria agência de publicidade em Brasília. Mas não se viu mais no padrão escritório-reuniões-gravata. Decidiu conhecer mais outros locais e suas respectivas culturas. Ao todo, Breno já visitou 52 países em 16 anos na estrada.

Breno tornou-se instrutor de mergulho de cilindro e de mergulho livre (apneia) e chegou a montar seu próprio veleiro, onde velejou durante dois anos e meio pela costa da Tailândia e Malásia. Hoje, mora na Tailândia há quatro anos. Seu veleiro é sua casa e seu escritório.

Em sua “casa”, convidou também quem quisesse acompanhá-lo. Mas as recusas eram várias, desde o enjoo que o mar provoca em algumas pessoas ao pequeno espaço que muitos alegavam não conseguir aguentar por muito tempo. De bicicleta, ele acredita que não haverá tantas desculpas. Vamos nos juntar a ele?


terça-feira, 17 de janeiro de 2017

26 de abril

Ela se entristecia e fugia de casa em seus aniversários. Nem se lembrava quando isso havia começado. Não queria que ninguém a surpreendesse com tentativas de alegria em meio à sua tristeza insistente.

E, antes de sair de casa, ai se o telefone tocasse… O coração palpitava-lhe tanto que mal suportava respirar. Era-lhe o dia mais sofrido de todo o ano, de todos os anos, desde que começara com seus pensamentos.

Muitos atribuíam a sua fuga ao desprazer de tantos não apreciarem a data de seu nascimento. Por isso, não havia tantas perguntas a que se desse o trabalho de responder.

Mas não era qualquer ligação. Seu pavor era a associação que fizera, sem razão e sem data, de que seu avô morrera no dia do seu aniversário. Mas ele estava vivo, em plena saúde, aos 75 anos, e a visitava diariamente com uma tapioca.

E, mesmo vendo-o todos os dias, sua tristeza explodia em lágrimas com a ideia de morte e vida em um mesmo dia, no seu dia. Ela não sabia explicar nem sequer a si mesma o porquê disso.

Talvez fosse o medo de perdê-lo, talvez já fosse a saudade de suas visitas, talvez o tempo já lhe era raro para aproveitá-lo ao máximo, talvez tivesse sonhado com a perda…

Mas não era nada disso. E, ao mesmo tempo, a morte lhe era tão real que não podia ler um poema de Drumond sem se lembrar de seu avô e sem cair aos prantos com a sua quimera sem sentido.

Até a mera ligação de seu próprio avô para parabenizá-la, que desmentia qualquer fantasia sua, a punha mares nos olhos. E, no dia do seu aniversário, seu desejo era apenas de que o dia acabasse.

Na aurora do dia seguinte, seus olhos inchados saberiam inundar-se novamente daqui um ano, apesar de continuar sem haver qualquer razão para sua tristeza iludida coincidir-se com a dura realidade em um 26 de abril.

“(…)
Aqui sentou-se o mais velho.
Tipo do manso, do sonso,
não servia para padre,
amava casos bandalhos;
depois o tempo fez dele
o que faz de qualquer um;
e à medida que envelhece,
vai estranhamente sendo
retraio teu sem ser tu,
de sorte que se o diviso
de repente, sem anúncio,
és tu que me reapareces
noutro velho de sessenta.
(…)”
(A mesa – Carlos Drummond de Andrade)
Para Jéssyka Lopes