sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Desgostos polêmicos

Tenho uma espécie de nojo de maionese.
Não curto os filmes do Tarantino.
Não sou apaixonada pela língua francesa.
Nunca li ou pretendo ler Paulo Coelho.
Bacon: iguaria fora do meu cardápio.
Tenho pavor de comida japonesa.
Não tenho a menor curiosidade de conhecer o Japão.
Não tenho paciência com futebol.
Tenho menos paciência ainda por conversas sobre futebol.
Gente boazinha demais me irrita.
Tenho pavor de óculos de sol espelhados.
Acho horrível homem sair de chinelo ou tênis de academia.
Acho feias motos esportivas, ainda mais seu barulho.
Não sou fã de doce.
Não suporto comida salgada.
Odeio academia.
Morro de preguiça do tocar do telefone.
Não gosto de jogos, baralho ou vídeo games.
Nunca vi muita graça no Chaves.
Não vejo graça na Keira Knightley.
Não vejo graça no Jude Law.
Não bebo refrigerante há mais de 20 anos.
Não gosto de quem não gosta de fumante.
Não entendo aqueles shorts com os bolsos maiores que os próprios shorts.
Tenho eca de azeitona, passas e aqueles cogumelos pernudos.
Não uso muito salto alto.
Não gosto de dias nublados.
Tenho preguiça de ouvir Djavan.
Não consigo gostar de Pink Floyd, exceto duas músicas.
Não bebo café.
Não assisto a séries, exceto a do Escobar.
Não gosto de shopping.
Tenho preguiça do que está na moda.
Entre outras coisas, muitas das quais melhor não serem escritas.

Publicado no blog Quadra Zero

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Vila Neuza

Uma casa de praticamente um século de existência. Vovô Zé Gondim encontrou-a pequena e a transformou em um casarão, com seu espírito criativo e empreendedor, aliado à sua aptidão para construção de obras (com suas próprias mãos). Entre algumas de suas realizações, construiu o Engenho Várzea Nova, restaurou e fabricou móveis que até hoje embelezam a residência. Nela, com sua mulher, vovó Rita, de quem herdei o nome, criaram 11 filhos. Um casarão repleto de salas com ladrilhos hidráulicos e azulejos portugueses e recantos para as flores darem ainda mais vida.

Para onde se olha, a casa cresce, em espaço e histórias. Com sobrado e sótão, dez meninas e um menino corriam em brincadeiras. Vovô, sucinto em seus afetos. Vovó, doce com seu olhar e suas mãos. Conheci-os muito mais pelo que me contam. Tive a oportunidade de vê-los pouco. Minha mãe é a caçula dos 11. A diferença de idade e a distância geográfica, em que eu vivia, eram grandes, o que tornaram difícil uma convivência mais próxima.

Lembro da morte de vovô. Era minha formatura da pré-escola, e mamãe estava triste e chorosa. Não derramei lágrimas. Não o conhecia com profundidade. Mas sabia da admiração e do amor que mamãe tinha pelo seu pai. Em casa, sempre foi unânime esse sentimento, tanto por mamãe quanto por papai.

Tia Enilde foi quem cuidou dos meus avós em sua velhice e, após a morte deles, habitou a casa sozinha por 13 anos. Trancava os quartos e as janelas por medo de gente estranha adentrar a casa. Então, muitos dos que visitavam a casa não podiam conhecê-la por inteiro.

Hoje, tantos anos depois, meus pais restauram a Vila Neuza, nome gravado na frente da casa, como de costume nos imóveis antigos apelidar com o nome da filha mais velha. Estão empolgados em refazer os forros do teto e os pisos em tábua corrida, que poderiam desabar a qualquer momento. Reformam a estrutura hidráulica e elétrica, que, sem renovação e manutenção há 40 anos, poderia sofrer uma descarga elétrica e destruir a casa em segundos.

A pintura dá nova vida à casa antiga. Trabalhadores são vistos em todos os cômodos para recuperar o que vovô fez tão brilhantemente. Papai e mamãe ornamentam a casa com plantas e flores, compradas por eles e doadas pela família. Procuram ideias de corrimões para dar segurança aos familiares, que hoje têm idade avançada.

Tia Enilde, uma das filhas mais velhas de meus avós, cuidou de minha mãe, quando bebê e criança. Hoje, os papéis se invertem. Mamãe está lá para amenizar sua solidão e para ampará-la sempre que necessário.

Pude conhecer a casa em reforma. Dormi, tomei banho e cozinhei onde meus avós e seus 11 filhos viveram. Me perdi a todo instante. Descobria aonde ir ao escutar vozes ou o barulho da sandália de tia Enilde. Ri com as histórias contadas desde crianças e adolescentes. Emocionei-me com tanta vida que habitou aquela casa.

E hoje a emoção é ver meu pai restaurar a casa de meu avô. Duas gerações encontram-se em construção e reconstrução. Minha mãe surpreende-se com a dedicação de papai. Estão cansados de tanto trabalho, mas não esmorecem para deixar a casa de pé e bela, como sempre foi, por mais e mais séculos.

A correria é grande. Eles convidaram toda a família para visitar a casa no dia 8 de dezembro, dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Eles querem que os filhos e os filhos dos filhos vejam, talvez pela primeira vez, cada lugar da casa e uma procissão em uma cidade do interior.

Nesse dia, estarão todos juntos para celebrar a família e a casa, tão famosa na cidade. E, certamente, meus avós estarão lá em cima, sorrindo com a restauração e a reunião de seus filhos, netos e bisnetos na casa que construíram e educaram a família com tanto zelo.

E esqueci de dizer, para quem não sabe, o casarão fica na cidade de Areia, brejo paraibano, na Serra da Borborema, terra de ilustres personalidades, como o famoso pintor Pedro Américo e o imortal da Academia Brasileira de Letras, fundador da Universidade Federal da Paraíba e da primeira escola de agronomia do Nordeste (EAN), José Américo de Almeida.

Ana Rita Gondim, filha mais velha da caçula dos 11 filhos de meus avós.



Publicado no blog Quadra Zero