segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Hoje não sou mais mulher

Sinto como se meu coração fosse explodir. Tenho apertado ele com as minhas mãos para mantê-lo sob controle no seu lugar. Mas, às vezes, minhas mãos se tornam fracas demais diante da vontade de ele crescer e tomar conta de mim por completo. Minhas mãos não o machucam. Ao apertá-lo, elas aliviam a dor que o inchaço me causa. Nada disso é visível, mas perceptível. Dá vontade de me transportar a uma ilha deserta para que ninguém veja minha dor. Uma dor que vem de dentro pra fora e de fora pra dentro. Tenho de me esconder do mundo e de mim mesma. Quero cobrir espelhos. Quero fechar os olhos do mundo e os meus. Sou uma pessoa melhor quando minhas mãos conseguem sufocá-lo. Quando não, sou capaz de maldizer e odiar o mundo. Não existem palavras que confortam. Não existem palavras que sejam ouvidas. Meu coração está surdo e obeso mórbido. Não sei se o exterior causa essa dor ou se essa dor intrínseca causou feridas em meu corpo. Feridas que se espalham como a doença que são. Tenho saudades e inveja do que já fui. Cada vez me cubro mais. Cada vez mais o mundo me repele e eu o rechaço. Me afogo em oceanos que eu mesma crio. Busco buracos e máscaras para me esconder. Mas não há esconderijo e fuga de mim mesma. Vejo remédios como paliativos para algo que se apoderou de mim. Invejo peles que se despem. Rejeito minha pele despida. Invejo formatos alheios. Rejeito a forma que se aumentou em mim. Desconheço-me. Reconheço-me. Metade que se me culpa, metade que se me alivia. Há uma vontade de ser só, ser inteira. Mas sou só pedaços, que ora se colam, ora se descolam. E o coração está sempre ali, como a querer explodir e jorrar até se esvair. É como se nele tivesse um peso que me impede de suportá-lo, que me impede de me deslocar, como se ele causasse e negasse a aparência deste corpo. É um coração em frangalhos. É um corpo em decadência. Atraio semelhantes, despedaçados e decadentes. Hoje entendo mais de dor, solidão e sonhos. Hoje sou uma pessoa melhor e pior. Hoje sou mãe, filha e irmã. Hoje não sou mais mulher.

Nenhum comentário: