quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Uma saudade...

Descubro uma saudade. Descubro que sinto falta daquela ansiedade. Aquela ansiedade do reencontro. Sinto falta daquela empolgação, de querer estar perto, de sentir-se perto e longe, de sentir-se perto mesmo distante. Sinto falta do arroubo, daquele abraço que não quer se desabraçar, daqueles beijos que se encontram. Sinto falta de sorrir gratuitamente ao acordar. Sinto falta de sorrir gratuitamente ao dormir. Sinto falta de sorrir gratuitamente em qualquer momento. Sinto falta de me surpreender com um olhar, um sorriso. Sinto falta de me surpreender com palavras e quereres. Sinto falta de encontrar e não querer se desencontrar. Sinto falta de descobrir um mundo. Sinto falta de descobrir-me. Sinto falta de abrir-me a um mundo. Sinto saudades de me jogar, de mergulhar e flutuar. Sinto saudades de sentir-me viva. Sinto saudades de sentir-me parte. Saudades de um tempo que passa devagar e rápido. Saudades de pensar e lembrar. Saudades de uma saudade que aperta, que não se mata e é a todo instante. Uma saudade da saudade que se canta, que assovia, que se lê, que se diz, que grita. Uma saudade que me é primeira e que se vê saudade triste por sentir-se saudade. Uma saudade sem prazo.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Com licença, mundo.

É triste descobrir que certas coisas acontecem em nosso corpo. E não gosto do verbo acontecer, mas é exatamente essa a palavra. Lembro-me de um dos primeiros chefes que tive em minha vida. Ele me contaminou com a birra ao verbo. Acontecer, para ele, era quase como um aparecimento de uma entidade. E é isso que, às vezes, acontece com o nosso corpo. Há coisas que fazemos que propiciam o surgimento ou que corremos o risco e elas aparecem. Mas outras não. Há aquelas que simplesmente vêm para nos deixar tristes. Existe controle. Não há regresso. Existe o conformismo. Não há cura. Elas começam pequenas, mas podem se espalhar. Elas começam com sintomas e podem se tornar graves. E se só mexesse internamente, talvez fosse mais fácil. Mas não, elas são exibidas, têm que se mostrar para nós e para os outros. E eu cada vez mais gostaria de entrar para dentro de mim mesma, esconder minhas marcas, meus aumentos, minhas feiúras. É como se a vida quisesse piorar aquilo que justamente nos incomodou a vida inteira. Como costumo dizer, nunca estrago o que não gosto, é sempre o que mais gosto. E assim é no corpo. As coisas aparecem como que por provocação, nos lugares que mais prezamos ou naqueles que toda a vida mereceram mais atenção porque já tinham alguns mínimos problemas. Disseram-me que é a idade. Respondi, no auge do meu humor, que só se eu tiver envelhecido 20 anos em quatro meses. Não existe diálogo. É apenas um silêncio solitário e triste. Preciso de tempo para aceitar e me conformar com um novo formato de mim mesma. Ainda não consigo. Tenho esperanças, mas sei que são esperanças com grandes chances de frustração. Imagino tudo o que possa existir de mais grave, mais doloroso, mais difícil e mais feio no mundo. Mas hoje pedi licença ao mundo. Deixe-me com minha tristeza. Deixe-me com a música no volume mais alto para nem ouvir a mim mesma. Deixe-me com o pior de mim. Deixe-me esperar surgir o melhor de mim. Permita-me que eu corra e deixe pedaços de mim no caminho. Dê-me um tempo de egoísmo que já volto, mundo. Com licença.