terça-feira, 28 de junho de 2011

Perfil - Lincoln Carlos Silva

O garçom-amigo (ou amigo-garçom) reúne fiéis seguidores do seu bom atendimento tanto na vida real como nas redes sociais. Atender bem o público, além de função deste gentleman, é uma forma de fazer e cativar amizades

Ana Rita Gondim

“Vamos àquele bar novo que abriu na Asa Norte?” É assim que o jornalista Leandro Galvão, de 30 anos, convida, obviamente em tom jocoso, a namorada para um dos bares mais tradicionais da cidade. De mesmo nome, mas mais recente, o Beirute da Asa Norte atrai assíduos frequentadores todas as semanas.

O casal e os amigos procuram uma mesa, sempre que possível atendida por um determinado garçom. Não menosprezando os outros, também muito queridos pela turma, mas Lincoln tem todo um serviço especial e chega a “mimar” seus clientes beirutianos. “Costumo dizer que ele não é apenas um garçom, mas quase uma babá, tamanho é o cuidado que tem em sempre deixar os clientes bem assistidos”, diz Leandro Galvão.

Quando pode, ele mesmo recebe os amigos (sim, amigos, ele vai aos aniversários quando o trabalho dá uma folga, por exemplo) com um abraço, um aperto de mão e aponta logo a área onde está atendendo naquele momento. Sem nem precisar pedir, chega logo uma Heineken geladíssima, a preferência masculina. Parte desses hábitos Lincoln adquiriu como gerente no restaurante Tucunaré na Chapa e depois como garçom na Choparia Sudoeste. No Beirute, Lincoln completará quatro anos em setembro. São quase 15 anos na função de bem atender o público.

Os “mimos” do goiano de Nerópolis vão desde ciceronear os clientes até servir doses camaradas e cortesia de porçãozinha de queijo coalho e azeitona. Além da festa inicial, é provável que se surpreenda, depois de fechar o bar, quando, a caminho de casa, pode-se levar um susto com a buzinada de Lincoln a se despedir do cliente-amigo.

Lincoln virou sinônimo de excelente atendimento. Quando se decide mudar o destino social ou alcoólico da noite, sempre alguém solta uma frase na mesa: “Que saudades do Lincoln!”. Até quem não aprecia as mesas grandes, os bancos enormes que atrapalham na hora do aperto (banheiro) e o preço acima da média se rende ao bom serviço: “É caro, mas vale a pena”, costuma-se dizer.

Uma cliente fidelíssima ao atendimento do gentleman é a contadora Fabiana Masaki, de 28 anos. “Tenho certeza de que se um dia ele sair do Beirute, nós vamos atrás, pra onde ele for”, afirma, sem o menor pudor ou pieguismo. A seguidora lincolniana também lembra o churrasco em comemoração ao aniversário do amigo Leandro Galvão, a que o garçom e a esposa (a vendedora Maria Isabel, 28 anos) compareceram, além de presentearem o amigo flamenguista com uma caneca do time.

Não bastasse a rede de amigos que agrega no Beirute, Lincoln os reúne nas mídias sociais, como o facebook. Quando a turma demora a aparecer na esquina da 107 Norte, ele os convida carinhosamente com a confissão de saudades que sente dos seus reais e virtuais seguidores. “Lembro que um dia eu estava no Beirute com uma amiga e comentei uma frase engraçada que o Lincoln tinha escrito no facebook. Minha amiga ficou de cara que eu tinha o facebook dele. E eu disse que ele era meu amigo”, relata Fabiana. No entanto, ao ir para um concorrente, não se espante se um dia receber a declaração de “traidor” na rede, pois Lincoln prefere seus amigos sempre por perto. “O Lincoln é um cara muito gente boa, que conquistou a galera. É difícil começar uma amizade assim, entre garçom e clientes. Pelo menos eu nunca tinha visto”, confessa.

Estar perto dos amigos é um dos motivos pelos quais Lincoln cativa sua freguesia, seja no bar ou na rede mundial de computadores. “Quanto mais você tem contato, fica a amizade. E amigo você não pode esquecer nunca. E esse site ajuda muito você a se sentir mais perto das pessoas de que você gosta”, justifica. Lincoln descobriu o facebook ao ouvir comentários de seus amigos e logo decidiu entrar para a comunidade. “Achei muito fera, me cadastrei e visito todo dia”, conta.

Para o estudante de Cinema Flávio Geromel, de 31 anos, Lincoln é uma das principais razões que torna o Beirute um lugar especial. “Gosto de me sentir em casa e ser bem atendido. O Beirute virou um desses lugares, já é minha casa. E não tem melhor atendimento que o do Lincon. Ele é bom de papo, divertido e está sempre de bom humor. Onde já se viu um garçom te cobrar em uma mensagem do facebook o porquê de você estar sumido? Este rapazinho não é apenas mais um garçom, é um amigo, e dos bons”, explica.

Modesto, Lincoln diz achar que desempenha razoavelmente bem seu trabalho. “Não procuro ganhar apenas minha gorjeta de hoje e, sim, fazer meu cliente de hoje. Atendendo sempre bem, de bom humor e com alegria, tenho certeza de que logo não terei apenas mais um cliente, mas um grande amigo”, revela o goiano de sotaque forte, apesar de residir em Brasília há quase dez anos.

O nome de Lincoln é uma homenagem ao ex-jogador do Goiás – “um craque”, nas palavras do garçom –, conhecido também pela torcida esmeraldina como Leão da Serra. Segundo o garçom, a ideia não foi de sua mãe ou de seu pai, mas de seu irmão mais velho, “completamente apaixonado pelo Goiás Esporte Clube”. Sua mãe aceitou a sugestão ainda grávida e hoje Lincoln se envaidece da forma como é chamado. “Sou muito orgulhoso desse nome que ele escolheu e pelo seu amor pelo clube que também sempre amei. Eu o conheci e ele [o jogador] é de um caráter excepcional, boa pessoa e muito trabalhador”, declara.

Há locais que atraem o cliente pela comida, pela beleza do lugar ou pelo preço barato. No Beirute, Lincoln é definitivamente um dos maiores diferenciais que mantém as mesas ocupadas em quase todos os dias da semana. Obviamente que isso não desmerece outros funcionários (como Marcão, André, Cícero e companhia) ou serviços do bar, mas é preciso dar crédito a uma das figuras mais queridas, profissionais e amigas da cidade. A capital agradece, Lincoln!

Publicado na 4ª edição da revista MeiaUm


Lincoln à paisana

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O impasse de usar um casaco de pele

No segundo sábado de junho, acordo cedo para começar a maratona de arrumações para casamento: pés, mãos, clareamento, sobrancelha... E, no meio da atualização da vaidade, um probleminha: nos últimos três dias, o mês de junho chegou pra valer em Brasília. Sair direto do trabalho para um happy hour, desprevenida de casacos, tinha o lado bom de ser insuportável ficar muito tempo na rua – uma bela economia. Voltando ao “probleminha”... O que usar para não morrer de frio naqueles vestidos?

Não tive tempo para decidir a minha política àquela altura do campeonato. Então, pela primeira vez, fui a uma loja para alugar um casaco de pele. A parte da “pele” me incomodou, mas, com o deadline a bater à porta, não hesitei, a não ser no instante de entregar o cheque caução de R$ 2.900. Fiquei com medo de sujá-lo ou alguém roubá-lo. Pensei em me esquentar nos braços do meu namorado, mas passar cerca de sete horas agarrados seria inviável. Entrego o cheque e volto para a casa para terminar a correria: tomar banho, secar e arrumar o cabelo, maquiar, escolher sandália, bolsa...

Ao chegar a casa, deixei-o dentro da sacola para não provocar minha irmã, bióloga. Mas não escapei do deu dedo em riste: “que horror”. Minhas únicas justificativas eram o frio e a falta de tempo para pensar em outra coisa. E detive-me em pensar que o bichinho, mais precisamente, a chinchila, foi encontrado morto e aproveitaram para fabricar o casaco. Este foi o meu consolo, não pela crítica da minha irmã, mas porque sempre fui favorável às manifestações a favor dos animais. Sacrificar um animal simplesmente para uma dondoca se esquentar, ou melhor, se exibir, nunca foi minha defesa. Mas precisei vestir a minha condenação.

Na segunda-feira, não soube dizer o que mais me deu alívio. Devolver o casaco ou receber meu cheque caução. Não ver mais o casaco no quarto e rasgar o cheque foram experiências igualmente tranquilizadoras.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Descobrindo a tranquilidade do shopping aos domingos

A convalescença de uma gripe fez o meu namorado e eu, na função de enfermeira, passarmos parte do nosso domingo no Conjunto Nacional. Definitivamente não seria o melhor programa, mas, cansados de ficar apenas em casa justo num fim de semana e com pouco tempo antes de uma viagem em que ele precisa se preparar para uma temperatura de -17°C, a ideia veio a calhar.

Que maravilha! Estacionamento vazio! Logo me animei com a andança que começava. Pouca gente circulando nos corredores e lojas tranquilas, sem alvoroço. A cada coisa que procurávamos, achávamos de imediato. O melhor de tudo, além da sorte de encontramos rapidamente o que precisávamos, era o bom humor dos vendedores. A simpatia era a marca de todos os funcionários que nos atenderam nas seis lojas em que entramos.

Acho que estou acostumada a ser mal tratada porque cheguei a me assustar com tamanha gentileza dos vendedores. Não é comum assim sermos bem atendidos em vários estabelecimentos. Todos sorridentes, com prazer em atender, oferecendo dicas de onde poder achar determinado produto, e, melhor, dando desconto sem nem precisarmos “chorar”. Alheios aos cartazes espalhados pelo shopping, um dos vendedores precisou nos avisar da promoção e que, por ser domingo, concorreríamos com dois cupons (e não com um como nos outros dias da semana) a R$ 20 mil em compras.

Fiquei pensando sobre essa simpatia em que me vi cercada. Atribui a razão disso ao domingo, suposto dia reservado ao descanso dos trabalhadores. Será que, por ser domingo, com a maioria das pessoas descansando em suas casas, os vendedores estivessem mais bem dispostos a atender compradores em potencial? Por causa disso comecei até a achar o próprio dia de domingo um dia mais simpático. Digo isso porque normalmente é um dia insosso, sem graça, parado, “um dia que nem sequer venta”, como diz uma amiga querida.

Depois dessa experiência, vou tentar me animar mais aos domingos e tentar quebrar o estereótipo dos dias que não ventam. O próximo, então, promete: dia dos namorados. Certamente, será um domingo simpático, animado e aconchegante. Ou talvez por isso mesmo não sirva para quebrar o tabu e, então, terei de esperar o ooouuutro domingo e analisar melhor esses dias que, dizem, iniciar a semana.

Se não se mantiver a expectativa dos domingos simpáticos, espero ainda lucrar com a sorte e as gentilezas deste domingo único: meu cupom ser sorteado e, assim, eu e meu namorado sermos recompensados pela balada Santa Luzia na sexta-feira à noite e pela matinê no hospital sábado de manhã.